sábado, 5 de março de 2016
07. Escopo De Hórus
Escopo De Hórus
Um dia o placebo perde o seu efeito
Não terá mais sabor a comida de isopor
Não há nada de novo por debaixo do sol
Já sei de cor de tudo ao meu redor
Eu li o Escopo de Hórus
Eu vi o Oráculo de Delfos
Ouvi os Ditirambos de Dionísio
E também senti a paixão de Cristo
Quase cai na teia de uma rata que
Com um beijo quis pregar-me na cruz
Deitei em sua cama, sentei à sua mesa
Mas sua “boa nova”, a “culpa”, não me seduz
Em seu covil, vi tua face
Ó, monstruosa Medusa
Descobri o teu disfarce
Meu espelho deixou-te confusa
Ela nunca fora Perséfone, na dúvida, levei iscas de mel para Cérbero
Relutante em amar, vingativa tornou-se tal qual Afrodite ou Ishtar
Todas as pessoas são cenários em que encontro a mim mesmo
Algumas poucas são campos de batalha onde eu enfrento os meus medos
E onde não for possível amar deve-se passar ao largo!
Ó, frágil Andrômeda, fui teu Perseu?
Ó, bela Oceânide, vinde ao teu Prometeu!
Ó, grande Shamash, abençoa este filho teu!
Enkidu morreu – e quem matou-o? Fui eu?!
O meu peito é largo,
Meus pulmões têm fôlego
Minha estrada é longa
Feita de fogo, jogo e logos
E a flor que busquei, num mergulho no rio
Elixir da minha força, de espinhos me feriu
Seu aroma suave atraiu uma serpente que,
Enquanto eu descansava, arrebatou-a com os dentes
Ah, minha ferida lambida!
Ah, minha ciência sofrida!
Ó, destino que se anela,
Eterna confirmação e chancela!
Que eu me aproveite de toda a natureza, mas que não carregue excessos
Que minha semente lançada não seja desperdiçada – aposte nela, Apolo!
Que eu cante louvores à vida tal qual o fazia na antiguidade clássica o Sátiro
E pereça como uma gota pesada que pende de uma nuvem carregada
Que desce das alturas para anunciar a vinda de um raio que o parta!
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