sábado, 5 de março de 2016

01. Incipit Tragoedia




Incipit Tragoedia 

I.

Nos pródromos da loucura, com a brisa pura do paraíso
Mergulho na água do rio Lete e adentro aos Campos Elíseos

Fui a fera que Hera enviara, que fora esmagada na batalha
E que teve como galardão ser transformada em constelação

Através da máscara de Cristo revelara-se me a face de Dionísio
Para nós, guerreiros – arco teso; para nós, os fortes – o que tem peso

II.

Hoje entendo um deus que, por amor, responde a Jó em suas preces:
“Nada justifica a tua dor, por isso mesmo é que ela te enobrece”

O fogo dos deuses me temperou, o Zéfiro também me carregou
Compaixão por deuses ocultos um dia também foi o meu amor

Há sentimentos à espreita dispostos a assassinar o solitário
Se os mortos postarem a te falar, siga em frente – ignore o seu chamado!

III.

Eu poderia me apaixonar por uma vida estável,
Por um deplorável bem-estar, mas nunca tive esse azar!

Voei demente com asas vacilantes, quebrando os dentes – mastigando diamantes
Eu também convalesci da ferida e soltei um grito na hora da despedida

I was watching the river flow, wich way the wind does blow?
And I also mailed a letter from the desolation row
[Eu estava a ver o rio fluir, pra que caminho o vento bate?
E eu também enviei a carta da fila da desolação]

IV.

No andar superior da humanidade fiz minha morada – a que me cabe
Que uma outra máscara dissimule a estupidez da minha honestidade!

Vós dissestes que eu não conseguiria e eu não tinha nenhuma garantia
Como fazeis – a expiação – eu não o faria, até que enfim me veio em sonho esta melodia

Quase perdi a razão – já fui de mim mesmo irrisão
Crio para além de mim nesta canção e numa experiência típica encontrei o meu refrão

Quando se tem caráter tem-se sua experiência típica que sempre retorna
Arrastado à insanidade pelo silêncio à minha volta – só ela não me ignora
Quem muda me é aparentado, pois, há tantas auroras que ainda não raiaram
Essa sorte – tê-la eu espero – ter a morte que vem para mim quando eu quero

 

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