sábado, 5 de março de 2016

03. A Gaveta Dos Enganos




A Gaveta Dos Enganos

Subi à montanha carregando minhas cinzas
Apavorado, em silêncio: só, ao som dos meus passos
Em frente e para o alto – meu destino era o céu
Tal qual abelha que acumula demasiado mel
Ó, até aquele que é apenas anseio, o sol
Sem aqueles a quem ilumina, ele diria: estou só!
Ainda que aquecesse tão pobres corações
De insaciáveis desejos, profundas frustrações...

Onde levou-me a minha senda: foi à rua da amargura
Ali eu fiz minha morada, chamei-a de ‘casa da loucura’,
Me encontrei com os meus anseios em sua sala dos espelhos
No armário do esquecimento – a minha gaveta dos enganos 


Desci à cidade, vi muitas casas, porém,
Para nelas adentrar tive que me agachar!
Logo eu, que ante os poderosos nunca rastejei
E, se alguma vez menti, foi porque amei
Que acontecera? Será que eu cresci?
Tudo parece tão menor que desde quando parti...
De fato, estou mais forte, voo mais alto e melhor
O olhar da inveja se apequena – nunca me verá maior!

Caminhava pelos bosques sempre a procurar
Um caminho por onde fosse possível amar
Terrível era a minha visão nesse momento:
Quanta teia de aranha – quanto bicho peçonhento!
Nunca vi curiosidade matar um leão...
Resisti às bordoadas, mas não às suas picadas
De tanto provar veneno, abracei o risco
Não morri, é verdade, mas degenerei em vício

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